Do ‘olho do furacão’, Wil Delarte faz uma retrospectiva das feridas do Brasil em 2023

Colunista do Cotia e Cia relembra todos os assuntos abordados em seus artigos este ano

Wil Delarte, colunista do Cotia e Cia. Foto: Arquivo pessoal 

Chegamos ao final de mais um ano com a sensação de dever cumprido. Um ciclo se encerra com essa coluna, e o futuro se lança em aberto, como tudo parece estar cada vez mais em nossos dias.

Levo para 2024 a certeza de que nos treze artigos que trouxemos para esse Olho, desde novembro do ano passado, um Furacão se revelou: nítido, ambíguo e complexo.

Começamos com uma carta de amor, para ela, à Democracia, e sentimos que todo o sentido dessa coluna, e tudo ao que ela se prestaria, seria em nome dela, por ela.

Ainda no turbilhão alucinado que culminaria no 8 de janeiro, falávamos de cenas estranhíssimas com direito a hino para pneu e intervenção extraterrestre, compreendendo que algo, entre a loucura e a ignorância, entre a revolta e o desespero, se manifestava indubitavelmente em nosso país.

Mas o Brasil, com suas contradições, gêneros, cores e origens diversas, subiu a rampa. Subiu para confirmar que o que restou de Democracia ainda era grande o bastante para que acordássemos, para que lutássemos, na prorrogação, aos quarenta e seis do segundo tempo, mas acordássemos.

Abrimos então os olhos para enxergar o horror que estava reinando enquanto delirávamos entre vírus, emas e cloroquina. Um genocídio se revelou no nosso Sol do meio-dia, e pudemos enxergar as costelas e corpos de yanomamis, pedindo socorro.

Respiramos fundo e fomos ao cerne, com o dedo na ferida dos colonizadores que nos deixaram como herança a escravidão que ainda insiste em ser moderna. 

Seguimos nosso caminho nesse furacão social e, em meio a atentados de violência nas escolas, compreendemos que o buraco é mais embaixo: é o vazio, é a ausência de afeto. 

Mas o objetivo dessa coluna era também explicar e demonstrar as nuances daquilo que parece nos escapar entre os dedos, e desenhar o Fascismo em dez pilares foi importante para percebermos que a roda da História insiste em voltar ao mesmo ponto, com atores e players que se adaptam e sofisticam o que temos de pior. 

E fomos mais a fundo na estrutura do racismo com o caso Vini Jr e Leo Lins, desvendando na sequência nossa Síndrome de Caco Antibes e tudo o que o horror aos pobres tem causado a nossa sociedade. 

Se não parecia lógico, pedimos direitos humanos ao policial, aproveitando para tirar por completo a farda do nosso Exército diante dos fatos históricos que o deixam cada vez mais nu.

Toda a complexidade do nosso mundo se abriu, de repente, nos algoritmos de inteligências artificiais que passaram e passarão cada vez mais a ditar nossos dias, nossas vidas, e o futuro da espécie humana. 

Fomos longe, sim, fomos lá. E de um futuro tecnologicamente distópico, voltamos a subir na arca mais utópica e falar daquilo que mais humano poderemos alcançar, do Amor radical frente a novas e antigas guerras que se abrem, aceitando que a causa palestina é a mesma causa humana, mal resolvida, esquecida, e que esta coluna, com toda sua insignificância, tentou ressuscitar.

O amor insignificante. A vida insignificante.

Estaremos prontos para abandoná-la de vez? O futuro se lança em aberto, mas agora o enxergamos muito melhor. E basta seguirmos assim, com coragem de abrir os olhos e não fugir: se jogar no furacão com o coração protegido, com a alma dos poetas e o olhar dos meninos. Até mais, meus amigos. Até logo ali.


De poesia à ficção, Wil Delarte tem cinco livros autorais, além de publicações em diversas mídias e antologias. Também possui composições na área musical, com letras gravadas por artistas do Rock e da MPB. É idealizador do canal cultural Universos para Elos e escreve mensalmente a coluna 'O Olho do Furacão no Cotia e Cia'
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