Entenda por que o Novo Ensino Médio vem sendo alvo de críticas e protestos

Ministro da Educação defendeu o diálogo para superar impasse sobre o Novo Ensino Médio; professor de Cotia detalha por que o modelo não é adequado para a realidade do ensino público do Brasil

Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil 

Reportagem: Neto Rossi

O Ministério da Educação está discutindo com a sociedade o chamado “Novo Ensino Médio” (NEM). Sem investimentos, o novo sistema, que dá ao estudante o direto de escolher quais disciplinar cursar, vem sendo alvo de críticas e de protestos pelo Brasil.

Nesta quarta-feira (15), foram registradas manifestações contra o novo modelo de ensino em mais de 50 cidades brasileiras. Diante dos atos, o ministro da Educação, Camilo Santana, afirmou que irá recompor o Fórum Nacional de Educação (FNE), criado em 2010 como resultado da luta dos movimentos de educação e desvirtuado em 2017, pelo governo Temer, por meio de uma portaria.

O Fórum tem o objetivo de ser um espaço amplo de debate sobre a educação. Entre suas funções, está acompanhar a concepção, implementação e avaliação da Política Nacional de Educação e organizar as Conferências

O titular do Ministério da Educação também afirmou que acredita no diálogo com a sociedade para resolver o impasse sobre as mudanças ocorridas no Ensino Médio em 2016, no início do governo de Michel Temer. Ele citou a consulta pública aberta pelo MEC para receber contribuições da sociedade sobre os rumos do Novo Ensino Médio.

Vale lembrar que a Reforma do Ensino Médio foi publicada como uma medida provisória sem que houvesse discussão com professores, gestores, alunos ou famílias. De acordo com especialistas, as mudanças, amplamente criticadas, foram elaboradas em conjunto com fundações empresariais que atuam no tema da educação.

Foto: Agência Brasil 


COMO FUNCIONA O NOVO ENSINO MÉDIO

Pela lei, aprovada em 2017, as escolas devem oferecer diferentes itinerários formativos para os estudantes, dentro de quatro grandes áreas: ciências humanas e sociais, linguagens, ciências da natureza e matemática. A ideia é atualizar e aproximar o conteúdo escolar da realidade dos estudantes de hoje, mas a prática vem mostrando que esse modelo impõe muitos desafios às redes públicas de ensino.

A flexibilização aumentou a carga horária de 800 horas por ano para 1.000. Tem mais aulas de matérias específicas e práticas e menos de formação básica, que inclui língua portuguesa e matemática.

“Eles tiram as disciplinas básicas e vão colocando itinerários e eletivas. No 3º ano do ensino médio só tem 5 disciplinas básicas (português, matemática, inglês, física e educação física). São essas 5 matérias obrigatórias. Os alunos não tem mais geografia, história, sociologia e química”, destaca Wesllen Souza, professor da rede estadual em Cotia.

Ele explicou que o restante da grade escolar é complementado com itinerários, que são as matérias específicas. “Vamos supor: eu estou dando um itinerário que se chama ‘processos de aculturação e assimilação’. Eu não dou mais aula de sociologia, eu falo só de assimilação e aculturação. Tem itinerário de geografia que só fala do solo, de português que só fala de mídia social.”

Para ele, o Novo Ensino Médio, na teoria, seria perfeito, se não houvesse defasagem no ensino público. “Eles partem do pressuposto que o aluno chega no 3º ano do ensino médio já sabendo de tudo. Então, para eles, os alunos não precisam mais saber o básico da história, da geografia [...] mas a gente sabe que a realidade do ensino brasileiro não é essa. Tem aluno que chega no 3º ano [do Ensino Médio] sem saber interpretar um texto”, avalia.

Outro problema relatado por Wesllen são as estruturas das escolas. Segundo ele, não há salas de aula suficientes para adaptar o novo ensino. “Uma eletiva que eu estou dando se chama cidadania e meio ambiente; tem um professor que dá uma eletiva de música; tem outro que dá de laboratório; só que não tem sala de aula para todo mundo. Você teria que abrir mais salas e a escola não tem capacidade”, diz. “Os alunos estão foram do tempo de aprendizagem, dois anos de pandemia só piorou o déficit. Agora, deveria ser ao contrário, eles deveriam ter mais aulas das disciplinas básicas e menos das específicas”, complementa.     

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