A história de Ruth foi marcada por dor e angústia, mas graças aos filhos de seus patrões, o desfecho foi banhado por lágrimas de emoção e afeto; veja a reportagem
O momento do reencontro entre mãe e filho. Imagem retirada do vídeo enviado ao Cotia e Cia |
Reportagem: Neto Rossi
“Bença, mãe”. Essas foram as primeiras palavras de Edmilson do Nascimento Cavalheiro para a sua mãe, Ruth do Nascimento, 39 anos após de terem vivido separados um do outro.
Um abraço forte em meio às lágrimas de emoção, que transbordaram entre os rostos de mãe e filho, marcou o reencontro que ocorreu no último sábado (14), em Cotia. E quem presenciou a cena, também não conseguiu conter o choro.
O momento foi registrado em vídeo (veja no final da reportagem) por familiares de Ruth. Mas esse foi o desfecho de uma história que começa no ano de 1984.
UMA SEMANA NO MEIO DO MATO
Ruth engravidou ainda muito nova, aos 15 anos. Na época, ela morava em Campo Limpo, Zona Sul de São Paulo. Desempregada, preferiu seguir rumo com seu filho nos braços, na época com seis meses, para não incomodar nenhum familiar. Mas ficou sem ter para onde ir.
A história foi contada ao Cotia e Cia por ela mesma, em entrevista concedida por telefone nesta quarta-feira (18). Ruth explicou que pegou um ônibus sentido Parelheiros e acabou “morando” em uma mata fechada com o pequeno Edmilson.
“Meu filho chorava de fome, e eu não tinha nada para dar. Estava sem leite, não tinha como amamentá-lo. Uma mãe para amamentar seu filho tem que estar alimentada. E eu não comia”, disse.
Ruth conta que o menino adoeceu por conta da friagem. Pegou uma pneumonia. A família do pai do garoto morava perto dos irmãos de Ruth. Cientes de sua situação, deixaram um recado para ela: assim que ela aparecesse, era para levar a criança até eles, pois não a conheciam.
Como o menino estava muito doente, ela decidiu voltar e pedir ajuda. Foi até a casa de uma de suas irmãs, mas a família do pai do garoto ficou sabendo e pediu para ela levá-lo até lá.
Ruth narra que o pai do menino, na época, tinha 19 anos. Ele viu o filho pela primeira vez. A família dele pediu para Ruth deixar o garoto lá, até ela arrumar um emprego e se estabilizar. Ruth relutou, mas acabou cedendo.
CASA VAZIA
Após mais ou menos uma semana, Ruth disse que conseguiu dar início a sua restruturação e foi buscar o seu filho na casa dos familiares do pai, onde o tinha deixado. Mas, para a sua amarga surpresa, ela conta que a casa estava vazia.
A partir daí, a vida da então jovem Ruth começa a mergulhar numa angústia que iria durar quase quatro décadas. Em todo este tempo, ela nunca mais teve notícias de seu menino.
“Esses 39 anos foram de muito sofrimento. Muito dolorido. Uma ferida enorme dentro do meu peito. Foi um tempo de muita tristeza e angústia. Eu tive problemas de saúde que decorreram do meu emocional. Foi só sofrimento”, relata.
Ruth conta que algumas limitações, como não saber ler e nem escrever, também dificultaram a busca pelo seu filho. Ela não sabia a quem recorrer e também não tinha ideia de onde ele poderia estar.
Eu rezava toda noite e pedia para Deus iluminar alguém para ajudar a encontrar meu filho. Pedia para Ele não me tirar deste mundo antes de encontrá-lo
As preces de Ruth foram atendidas, mesmo que 39 anos depois, mas a sua esperança veio a se concretizar. E isso aconteceu após ela começar a trabalhar na casa da família dos irmãos Yuri Varelas, 28, e Álvaro Guedes, 23.
“ENCONTRAMOS”
Ruth trabalha há 6 anos como diarista na casa dos pais de Yuri e Álvaro. Certo dia, ela contou a história para eles. Na época, os irmãos até tentaram procurar pelo filho da diarista, mas não tiveram sucesso.
Foi na semana passada que a história começou a rumar para outro desfecho. “Eu estava limpando a parte superior da residência, quando o Álvaro me chamou para perguntar o nome do pai do meu filho. De momento, eu não conseguia lembrar. Mas depois, me esforcei e fui recordando de tudo, inclusive, do hospital em que ele nasceu, dos nomes das tias e dos avós do meu filho”, disse Ruth.
Álvaro, que é advogado, anotou as informações e Ruth deu continuidade às suas tarefas. Quando deu o horário de voltar para casa, os irmãos pediram para que ela fosse até o escritório. “Perguntei: o que foi? E eles disseram: encontramos! Na hora, eu não tive reação. Foi um choque. Esses meninos são uns heróis”, disse Ruth, emocionada.
Os irmãos Yuri (à esquerda) e Álvaro (à direita). Foto: Arquivo pessoal |
A confirmação veio através da certidão de nascimento do filho de Ruth que Álvaro conseguiu acessar por um sistema de busca civil. Além do nome e dos demais dados, duas características ajudaram a identificá-lo: rapaz negro de olhos azuis. Yuri digitou o nome no Facebook na esperança de encontrar o perfil e checar com as informações que tinha.
“Quando a gente olhou no Facebook, bateu tudo com a certidão que o Álvaro buscou juntamente com as características que ela me passou”, explicou Yuri. “Mandei a mensagem [para o Edmilson] pelo Facebook, mas ele não visualizou. Passei pro Álvaro, que entrou em contato com uma filha dele.”
Álvaro explicou que mandou mensagem para a filha de Edmilson e ela respondeu, confirmando também a história de seu pai e de sua avó, que não se conheciam. Ele então pediu o contato de Edmilson e ligou para ele.
“Eu liguei para ele três vezes. Na primeira, ele começou a chorar e desligou. Na segunda, ele passou para o cunhado dele. Na terceira, ele perguntou se eu estava de tiração com ele. Expliquei a situação e passei para ele o contato da Ruth”, disse Álvaro.
O REENCONTRO
Ruth então passou a falar com seu filho por telefone até o dia mais esperado de sua vida: o reencontro, que ocorreu no último dia 14.
Segundo Ruth, Edmilson, que mora em Jundiaí, disse que virá para Cotia e ficar mais próximo dela. “Ele disse que não quer perder mais tempo. Disse que quer ficar comigo e não se separar nunca mais”.
Na hora em que eu olhei para o rosto dele, eu apenas abri meus braços e disse: ‘vem aqui, filho, vem abraçar sua mãe’. Foi muito forte
VEJA O MOMENTO DO REENCONTRO DE RUTH E EDMILSON ABAIXO: