Segundo o boletim de ocorrência, no local da denúncia foram encontrados dois veículos da Prefeitura de Cotia e um material de campanha de dois candidatos eleitos
Caso foi registrado no 2º DP da Granja Viana. Foto: Rudney Oliveira / Cotia e Cia |
Reportagem: Rudney Oliveira e Neto Rossi
A Polícia Civil e o Ministério Público Eleitoral de Cotia investigam um suposto crime de peculato envolvendo o secretário municipal de Segurança Pública, Almir Rodrigues. Na última sexta-feira (30), policiais se dirigiram até o bairro Jardim Recanto Suave após receberem uma denúncia de possível crime eleitoral que estaria ocorrendo no local. A diligência foi acompanhada pelo promotor de justiça Marcelo Silva Cassola.
Segundo o boletim de ocorrência, ao chegarem no endereço, os policiais e o promotor mencionaram que o local seria, em tese, “um escritório de distribuição de santinhos” para a eleição que ocorreu no domingo (2). Ainda no imóvel foram encontrados dois veículos de uso exclusivo da Prefeitura de Cotia, sendo um utilizado por Almir e o outro por um guarda civil. Os veículos foram vistoriados, mas nada de ilícito foi encontrado.
Após serem autorizados a adentrarem no espaço, os policiais disseram que no primeiro pavimento do prédio comercial funcionava uma gráfica e, no piso superior, foram encontrados santinhos dos então candidatos a deputado federal Alex Manente (Cidadania) e a deputado estadual Mário Lacerda (Cidadania). Ambos foram eleitos no domingo.
Almir Rodrigues foi ouvido no mesmo dia no 2º Distrito Policial de Cotia. A reportagem não teve acesso ao seu depoimento, mas conseguiu entrevistá-lo por telefone [VEJA A ENTREVISTA LOGO ABAIXO].
Em nota enviada ao Cotia e Cia, o Ministério Público Eleitoral de Cotia informou que recebeu, no final da última semana, uma denúncia dando conta de possível emprego de servidores públicos em espaço utilizado para campanha política.
O MPE disse que as investigações acerca de possíveis crimes de peculato e/ou emprego irregular de verbas públicas seguem sob a presidência do Delegado de Polícia Titular do 2o Distrito Policial de Cotia, com acompanhamento do órgão.
“Sem prejuízo, todos os elementos colhidos foram registrados concomitantemente pela Promotoria de Justiça Eleitoral de Cotia e encaminhados à Procuradoria Regional Eleitoral em São Paulo, órgão com atribuição para a avaliação de possível abuso de poder político no âmbito do presente pleito eleitoral”, informou a nota.
“Finalmente, com a recepção do material na 4a Promotoria de Justiça de Cotia, proceder-se-á à análise dos elementos de prova colhidos em ambos os procedimentos para, no âmbito das atribuições de tutela do Patrimônio Público e Social, avaliar-se a existência de indícios de conduta prevista na Lei de Improbidade Administrativa”, concluiu o MPE.
Procurada pelo Cotia e Cia, a Prefeitura disse que ainda não foi comunicada oficialmente do ocorrido, mas se colocou à disposição das autoridades para elucidar qualquer suspeita de conduta em desacordo com a função de secretário municipal durante o seu expediente. “Ademais, caso fique comprovada alguma irregularidade, a Prefeitura tomará as medidas cabíveis para o caso”, disse.
A reportagem entrou em contato com os deputados eleitos Alex Manente e Mário Lacerda, mas não houve retorno dentro do prazo estipulado. O espaço continua aberto para manifestações dos parlamentares citados.
O QUE DIZ ALMIR RODRIGUES SOBRE O CASO
Na sexta-feira (30), Cotia e Cia entrou em contato com o secretário de Segurança Pública Almir Rodrigues, que deu a sua versão do caso. Ele disse que no momento estava em seu horário de almoço e de passagem pelo local para assinar um contrato.
À reportagem, Almir afirmou que o espaço é dele e que estava alugado para um candidato, e ainda negou que os carros eram oficiais da Prefeitura e que ali funcionava uma gráfica.
“Eu passei no horário de almoço numa propriedade minha para assinar um contrato de um escritório que está alugado para um candidato a deputado. O carro não é oficial, é um carro da frota de locação da Prefeitura, mas não é um carro oficial, porque o carro oficial é o de placa branca. É um carro que eu uso para trabalhar no dia a dia”, disse.
O secretário explicou que, quando estava saindo do imóvel, foi surpreendido com a chegada da Polícia Civil e deu mais detalhes sobre o prédio de sua propriedade.
Ali não é uma gráfica. No primeiro andar desse predinho tem uma empresa que faz cenários, mas a empresa não é minha, eu alugo esse espaço. Do lado, tem uma escada que dá acesso a um escritório, que eu aluguei para um candidato. A coincidência é que eu passei lá só para assinar o documento e alguém, as vezes por maldade, fotografou ou mandou informação para o promotor e os policiais que foram até lá
Almir Rodrigues disse que foi na sequência até a delegacia e prestou os esclarecimentos “sem grande novidade”. Ele questionou o conteúdo do boletim de ocorrência que o Cotia e Cia teve acesso e negou, novamente, que ali seria uma gráfica.