Operação do Gaeco e da Polícia Militar Ambiental, deflagrada nesta sexta-feira (24), visa desarticular uma organização criminosa que pratica crimes ambientais em loteamento clandestino; Cotia e Cia teve acesso aos mandados de busca e apreensão; confira
(da esq. p/ direita): Gustavo Clemente, Sérgio Folha e Vítor Marques. Fotos: Site da Prefeitura de Cotia |
Por Neto Rossi e Rudney Oliveira
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e a Polícia Militar Ambiental deflagraram, nesta sexta-feira (24), a Operação Nerthus, que visa desarticular uma organização criminosa que pratica crimes contra a lei de parcelamento do solo, contra o meio ambiente e de corrupção ativa e passiva no município de Cotia.
A investigação teve origem com a Operação Fast Track, deflagrada em novembro de 2020, quando se identificou e desarticulou célula jurídica da facção criminosa do Primeiro Comando da Capital (PCC), denominada Setor Universo. Com base naquela investigação, também presidida pelo Gaeco, identificou-se uma organização criminosa que atua desde meados de 2018 no Parque das Nascentes, em Cotia.
Além da prisão de dois policiais – um civil e um militar – a operação cumpriu mandados de busca e apreensão no endereço de três secretários de Cotia: Gustavo Gemente Nascimento (Verde e Meio Ambiente), Sérgio Folha (Habitação e Urbanismo)* e Vítor Marques (Assuntos Jurídicos e da Justiça).
Cotia e Cia teve acesso ao mandado de busca e apreensão emitido pelo juiz Djalma Moreira Gomes Junior. No mandado, o magistrado autorizou o “arrombamento de porta e forçada de entrada para o descobrimento do que se procura”.
O juiz ainda pediu a extração de conteúdo de todos os aparelhos celulares, tabletes, computadores e demais dispositivos dos investigados. “Incluindo-se memória interna, cartões de memória, unidades de backup e armazenamento remoto em nuvem, aplicativos de conversa (WhatsApp, Telegram, Messenger, outros).”
Os mandados de busca e apreensão foram necessários, segundo a investigação, porque apurou-se que o êxito da atividade criminosa “depende da conivência e participação de agentes públicos e políticos, que ocorre por meio de atos de corrupção”.
Mais detalhes da Operação Nerthus serão apresentados hoje pelo Ministério Público em coletiva de imprensa.
OUTRO LADO
Por meio da assessoria de imprensa da Prefeitura, Cotia e Cia procurou os secretários Vítor Marques e Gustavo Gemente Nascimento para se posicionarem sobre o caso. Se houver retorno, será acrescentado nesta reportagem.
*Sérgio Folha foi exonerado do cargo de secretário de Habitação há pouco mais de um mês. Como ele foi eleito vereador, voltou para a Câmara de Cotia. A reportagem pediu o contato de Folha para a comunicação da Câmara, já que no portal da instituição não há nenhum registro de contato do parlamentar.
Sobre a operação, a Prefeitura de Cotia informou por meio de nota que está acompanhando o andamento dos trabalhos. “A administração municipal está à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos necessários. Tão logo tenha acesso aos autos, poderá se pronunciar sobre o assunto.”
ÁREA VEM SENDO DESMATADA HÁ 4 ANOS
O loteamento clandestino já vem destruindo a Área de Preservação Permanente (APP) desde 2018. O loteamento consta como irregular no site da Prefeitura de Cotia.
O desmatamento acontece à luz do dia. O loteamento já foi alvo de reintegração de posse. A área é extensa, vai do Rodoanel até a Rodovia Régis Bittencourt.
O Parque das Nascentes foi criado pela empresa pública Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa) em compensação ambiental pela implantação do trecho Oeste do Rodoanel. Posteriormente, a área foi transferida ao município de Cotia.
Apesar de ser recoberta por remanescente de floresta ombrófila densa da Mata Atlântica e contar com 13 nascentes importantes para duas sub-bacias da região, a área vem sendo irregularmente desmatada e ocupada, sobretudo a partir de 2018.
Dados da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Agropecuária mostram indícios da prática conhecida como “correntão”, caracterizada pelo desmatamento de toda a floresta de uma só vez. Entre os problemas provocados pela prática está a alta mortandande de animais, já que ela impede o afugentamento da fauna.
(ESSA REPORTAGEM FOI ATUALIZADA ÀS 16H37 DO DIA 24/06/2022 COM INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES DO DESMATAMENTO)