Os dois flanelinhas foram assassinados ontem (27), no início da noite, no centro de Cotia; Rafinha e Iago pegavam almoço no comércio da minha família. Tinham dificuldades para se alimentar no dia a dia. O ''Bom Prato", para eles, seria ótimo, pois poderiam almoçar com apenas R$1. Ironia do destino, morreram ao lado do Bom Prato, antes de sua inauguração. E, provavelmente, de estômago vazio
Rafinha, de boné pra trás, e Iago, de boné vermelho, mortos a tiros na noite de ontem (27) no centro de Cotia. Foto: Reprodução |
Ambos trabalhavam como flanelinhas no local. A poucos metros dali, foi instalada uma unidade do Restaurante Popular Bom Prato, do governo paulista. O Bom Prato deveria ser inaugurado hoje (28) pela manhã. Mas o governador Rodrigo Garcia cancelou o evento praticamente ao mesmo tempo em que Rafinha e Iago foram mortos.
O governo de São Paulo nega que o motivo do cancelamento tenha sido a ocorrência de ontem à noite. A assessoria de comunicação do estado disse a este colunista por telefone que o cancelamento ocorreu “por motivos de agenda do governador”. Mas não foi isso que o deputado federal, Alexandre Frota, afirmou em sua conta no Twitter.
Evento cancelado hoje em Cotia, ontem no fim de tarde fui chamado no Palácio e o Governador Rodrigo com sua equipe e a secretária Laura pediram para cancelar o evento e informar a Prefeitura, devido aos acontecimentos violentos na cidade
Curiosamente, Frota apagou o tweet. Mas nós salvamos. Veja abaixo
Publicação foi retirada do perfil do deputado Alexandre Frota |
Quem agora está dizendo a verdade?
Diante de tudo isso, a Prefeitura de Cotia não se manifestou. A Polícia Civil está investigando o crime. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo não comentou.
Há, ainda, uma terceira vítima, que está hospitalizada. O que aconteceu ontem no centro de Cotia? Ainda não sabemos. Especulações dizem que foi uma briga entre eles. Mas não é essa a versão das testemunhas no Boletim de Ocorrência.
De acordo com populares, além dos três rapazes, tinham outros três, sendo que, um deles, teria disparado contra as vítimas. Mas, até agora, apenas relatos.
A Polícia Civil disse o seguinte: “O local é parcialmente iluminado, mas há diversas árvores que prejudicam a iluminação. Não havia chovido. O local é asfaltado e com constante passagem de pessoas, por ser na área central da cidade. Havia diversas câmeras residenciais nas proximidades. Nenhum objeto ou documento foi apresentado neste plantão policial.”
Rafinha e Iago eram meus conhecidos. Iago sonhava em ser MC. Toda vez que me via nas ruas, queria mostrar uma música nova. E ali, na atenção que eu dava para ele, podia ver seu sorriso estampado no rosto. Talvez fosse isso que faltava para ele: alguém lhe dar uma atenção.
Já Rafinha eu conhecia melhor. Morou no mesmo bairro que eu. Tinha problemas com dependência química. Mas era um rapaz com força de vontade. Inteligente, conversador, sempre com aquele gingado de malandro, mas com um coração enorme de bondade.
Quem sou eu para julgar esses meninos? O que eles faziam da vida não é problema meu. Meu papel aqui, como comunicador social, é ir atrás das informações corretas e torná-las públicas. E, também, lutar por justiça.
Rafinha e Iago pegavam almoço no comércio da minha família, aos finais de semana. Tinham dificuldades para se alimentar no dia a dia. O Bom Prato, para eles, seria muito bom, pois poderiam almoçar com apenas R$1. Ironia do destino, morreram ao lado do Bom Prato, antes mesmo de sua inauguração. E, provavelmente, de estômago vazio.
Neto Rossi (@netorossi_1) é jornalista do Cotia e Cia e escreve nesta coluna assuntos diversos sobre a cidade e a região. |