A Coluna entrevistou Leandro Vital, morador de Osasco, que explicou como funciona o trabalho das igrejas inclusivas. “Essa ideia de que Jesus não aceita e condena, não vem de Jesus, e sim dos nossos preconceitos”; confira
Pastor evangélico Leandro Vital. Foto: Arquivos pessoais |
Em uma época que estamos vivendo com a propagação do ódio tão escancarada, também em meios religiosos, eis que surge uma iniciativa que rema contra essa maré inserida na sociedade como um todo. Trata-se da Igreja Inclusiva que, em seu conceito, "leva o amor de Cristo sem preconceito a todas as pessoas que são excluídas de certa maneira do convívio social".
Para entender melhor esse conceito e esse trabalho, a coluna bateu um papo por telefone com o pastor Leandro Vital, 40, morador de Osasco, em São Paulo. Leandro é homossexual e levanta a bandeira do amor ao próximo em sua genuinidade, sem fazer acepção de pessoas.
Ele conta que tudo começou quando tinha 21 anos. Frequentador de uma igreja Católica, Leandro não se sentiu acolhido pelos demais. Chegou a pensar que Jesus não o aceitava do jeito que ele era, por conta da sua sexualidade. Foi a partir do contato com um grupo de evangélicos inclusivos, em São Paulo, que sua concepção começou a mudar.
“Percebi que esse grupo fazia uma abordagem do evangelho diferente das demais igrejas. A teologia inclusiva diz que Jesus te aceita independentemente da sua sexualidade, que é o grande diferencial das igrejas tradicionais”, explica.
Foi com o estudo e o passar do tempo que ele foi abrindo novos horizontes para exercer sua espiritualidade.
“Fui conhecendo e aprendendo dentro da própria Bíblia que essa ideia de que Jesus não aceita e condena, não vem de Jesus, e sim dos nossos preconceitos. Aí eu comecei a perceber que o que me separa de Deus não é a minha sexualidade, mas sim o próprio preconceito da sociedade que não entende a questão e acaba nos afastando”, relata.
Pastor Leandro evangelizando no centro de Cotia. Foto: Arquivos pessoais |
Leandro se firmou no grupo, que foi crescendo até chegar ao ponto de fundar uma unidade em Osasco, que já tem 15 anos de existência. Na região, além de Osasco, existem outras igrejas inclusivas em Barueri, Jandira e Cotia. Todas com o mesmo objetivo, como narra abaixo:
Levar o amor de Cristo para todas as pessoas sem fazer acepção. Esse é o principal pilar. Qualquer pessoa, independente da sua sexualidade, é aceita e acolhida dentro da nossa igreja. Nós acreditamos que Cristo não exclui ninguém
O AMOR DE CRISTO NAS PERIFERIAS
Hoje, Leandro exerce seus trabalhos religiosos na Igreja Evangélica Arautos de Cristo, que tem como foco trabalhar a inclusão LGBTQIA+ nos bairros periféricos.
“A maioria dessas igrejas, geograficamente, está localizada em regiões distantes das periferias. Com isso, as pessoas LGBTQIA+, que moram nos bairros periféricos, têm dificuldades de participar de seus encontros. Além disso, muitas delas podem nunca ter ouvido falar em igreja inclusiva”, explica.
Igreja Arautos de Cristo, no bairro Helena Maria, periferia de Osasco. Foto: Arquivos pessoais |
A Igreja Arautos de Cristo debater a inclusão nas zonas periféricas, indo na contramão das demais igrejas existentes na região. “A Igreja Arautos de Cristo tem a missão de ir ao encontro daqueles que são excluídos pela sociedade, porque é nosso dever acolher e levar o amor de Deus a todos sem preconceito, sem acepção de gênero ou classe social”, detalha.
“Somos uma das poucas igrejas na região, senão a única, que vem promovendo acolhimento de pessoas LGBTQIA+ nas periferias”, conclui.
Neto Rossi (@netorossi_1) é jornalista do Cotia e Cia e escreve nesta coluna assuntos diversos sobre a cidade e a região. |