Reportagem do Cotia e Cia conversou com duas vítimas do chamado 'golpe do intermediário' e preparou um passo a passo para que você não caia nesse tipo de crime; confira
Foto ilustrativa. Crédito: Centercarjf |
Reportagem: Neto Rossi
Edição: Rudney Oliveira
O vigilante Antônio de Oliveira está prestes a se casar e pretende se mudar para a Zona Sul de São Paulo. Para ajudá-lo nessa correria que é o casamento, nada melhor que um carro. Navegando por um site de vendas, ele encontra um que seria perfeito: Ford Fiesta ano 2011, em ótimo estado.
Em contato com o suposto vendedor, que se identificou como Martinelli Gonçalves, ambos passam a conversar pelo WhatsApp. Ao questionar qual o valor mais baixo que ele conseguiria fazer, Martinelli então responde R$16,5 mil. Após negociar, o suposto vendedor disse que faria por R$ 16 mil caso Antônio fosse buscá-lo no dia seguinte. E foi o que ocorreu: quarta-feira (2), no Atacadão de Cotia. Negócio fechado.
Antônio então pergunta, pelo WhatsApp, se o carro está no nome de Martinelli. Mas ele responde que não, que o veículo estava no nome do antigo dono, que trabalha com autoescola. O suposto vendedor passa uma imagem com o registro do veículo e diz que é para Antônio não mudar de ideia, pois "tinham várias pessoas interessadas".
O DIA DO GOLPE
Chega quarta-feira, e Antônio já está no estacionamento do Atacadão aguardando Martinelli para comprar o tão desejado carro. Mas Martinelli liga e fala que não poderia ir, pois estava ocupado, e quem iria no lugar dele era um amigo, chamado Henrique.
Martinelli fala para Antônio não comentar nada sobre o valor do carro para Henrique, e que era apenas para os dois irem até o cartório fazer a transferência dos documentos.
“O estelionatário me ligou, perguntou se eu tinha gostado do carro, falei que era bacana e tal. Tinha IPVA para pagar, mas ele disse que faria um descontinho. Fiquei meio com o pé atrás quando ele falou que dava pra quebrar o valor do IPVA. Então, ele pediu pra gente ir para o cartório e assinar os documentos para fazer a transferência”, relata Antônio ao Cotia e Cia em entrevista por telefone nesta quinta-feira (3).
Após assinar os documentos de compra e venda no cartório, Antônio fez a transferência via Pix no valor de R$ 15 mil para o estelionatário, que continuou insistindo para que ele não comentasse o valor com Henrique.
Eu só percebi o golpe mesmo quando no cartório o dono do veículo enviou uma foto do recibo assinado ao Martinelli, dizendo que assim que caísse o dinheiro na conta, liberaria o veículo. Mas, a partir desse momento, ele não atendeu mais
Cerca de 30 minutos depois, Martinelli deixa uma última mensagem no WhatsApp da vítima: “Vocês ‘caiu’ em um golpe. Conheço ninguém de vocês. Me perdoa, vocês são inocentes.”
Última mensagem do golpista deixada para Antônio. Foto: Reprodução |
A OUTRA VÍTIMA
Cotia e Cia também conversou com o instrutor de autoescola, Henrique dos Santos, verdadeiro proprietário do Ford Fiesta, que Antônio desejava comprar.
Henrique disse que fez o anúncio de seu carro no domingo (30) no valor de R$ 28 mil. No mesmo dia, Martinelli já fez contato com ele dizendo que estava interessado no automóvel.
“Ele estava com pressa de comprar o carro. Ele queria já comprar na segunda-feira. Mas eu disse que na segunda não ia conseguir. Aí sugeri de a gente se encontrar na quarta-feira. Aí ele concordou”, conta.
Ambos também foram se falando pelo WhatsApp. Martinelli disse a Henrique que pagaria os R$ 28 mil pois precisava do carro para quitar uma dívida de um terreno.
Conforme combinado, Henrique seguiu na manhã desta quarta-feira (2) para o Atacadão de Cotia, onde se encontraria com Martinelli. Mas o golpista ligou para Henrique, dizendo que não poderia ir, e que um amigo, chamado Antônio, iria em seu lugar. Assim como falou para Antônio, o estelionatário pediu para Henrique não comentar nada sobre valores para a pessoa que ele ia entregar o veículo.
Aí a gente conversou lá [no Atacadão] e ele [Antônio] disse que tinha gostado do carro. Aí ele entrou em contato com esse Martinelli e disse que ia ficar com o veículo. Só que, aí, eu acho que o cara cobrou um valor dele, mas o valor não batia, mas como ele pediu para não entrar em detalhes de valores, aí houve essa divergência [...] pelo que eu entendi, ele pegou o meu anúncio, tirou a foto do veículo e passou pra esse outro rapaz um outro valor. Fez tipo um clone do anúncio
Já no cartório, Henrique tirou uma foto do recibo e mandou para Martinelli e, assim que o valor caísse em sua conta, ele entregaria o veículo. Mas o golpe já havia sido consumado. “Logo em seguida que eu tirei essa foto, que eu mandei pra ele a mensagem, a partir daí ele não atendeu mais. O ticket veio no valor de R$ 28 mil, mas era falso, né.”
O caso foi registrado como estelionato na Delegacia de Cotia nesta quarta-feira (2).
METODOLOGIA DO GOLPE
A metodologia do chamado golpe do intermediário, como esse relatado na reportagem, considerado um dos crimes mais conhecidos no processo de compra e venda de automóveis, é basicamente a mesma. Ele consiste em fraudadores que se utilizam de anúncios de terceiros para negociar veículos usados ou seminovos. O objetivo do golpe é clonar anúncios reais e receber o pagamento do comprador interessado pelo veículo.
No primeiro momento, o criminoso começa a conversar com o proprietário do veículo, e o proprietário, sem perceber, se torna a primeira vítima. O golpista começa a perguntar detalhes do automóvel e, então, faz um anúncio num site de vendas como se fosse o próprio proprietário.
Os advogados de Cotia, Michel Silva e Jefferson Fischer, que acompanharam o caso de Antônio e Henrique, fazem um alerta para que as pessoas não caiam em golpes como esse.
A compra e venda de um automóvel ou motocicleta exigem cuidados que envolvem a vistoria, a emissão de laudo cautelar e de transferência e o pagamento e assinatura do documento para viabilizar a transação que deve sempre ser um ato simultâneo e feito entre as pessoas presentes, com conferência do recebimento de valores, vista dos documentos e reconhecimento de firma em cartório
Os advogados ressaltam para não comprar de intermediários, em especial, os que surgem da internet. “Só conclua o negócio estando com as pessoas presentes e em locais públicos e movimentados. Na dúvida, desconfie e fuja, sem prejuízo de comunicar à polícia e aos sites de anúncios para que adotem providências”, concluem.
VEJA O PASSO A PASSO PARA NÃO CAIR NO GOLPE
1 - Prefira negociar sempre com o próprio comprador/vendedor. Evite intermediários!
2 - Desconfie de ofertas muito atrativas, se você for o comprador
3 - Vendedor, colocou preço abaixo do mercado e o comprador negociou? Desconfie.
4 - A transferência do veículo deve ser realizada em um cartório. Somente faça uma transferência do valor no momento da assinatura do documento (comprador). Somente faça a transferência do veículo com a confirmação do seu banco de que o dinheiro está na conta (vendedor).
5 - Quando receber uma transferência bancária, sempre confirme com o seu banco se o dinheiro está em sua conta.