Motivo da suspensão do Projeto de Estimulação Precoce, que envolve atendimentos terapêuticos, fonoaudiólogos, neuropediátricos, entre outros, seria financeiro, segundo a instituição. Mães relatam que foram pegas de surpresa e que ficaram ‘sem chão’ com a notícia
A pequena Helena, de 1 ano e 7 meses, foi uma das 40 crianças afetadas pela suspensão. Foto enviada pela mãe da menina ao Cotia e Cia |
A Apae de Cotia suspendeu provisoriamente o Projeto de Estimulação Precoce (PEP), que atende cerca de 40 crianças com idades entre 0 a 6 anos e 11 meses. As atividades, que envolvem atendimentos terapêuticos, fonoaudiólogos, neuropediatriátricos, entre outros, foram suspensas por falta de recursos, segundo a instituição.
Em um comunicado enviado aos pais nesta terça-feira (2), a Apae disse que precisava reestruturar o corpo de profissionais e, por problemas financeiros, estava encontrando dificuldades. Esse impacto, de acordo com a entidade, teria ocorrido em razão da pandemia.
“Sabemos que com o advento da pandemia, muitos serviços foram suspensos por vários motivos, com a Apae, não seria diferente. Levando-se em conta que a Apae é uma instituição privada, sem fins lucrativos, uma OSC – Organização da Sociedade Civil, a mesma depende de recursos externos para manter os projetos. Desta forma, com a escassez de recursos financeiros, não será possível manter o quadro de profissionais nos próximos meses, levando a instituição a recorrer a suspensão do serviço PEP. Assim que for possível, a Apae voltará com o serviço”, diz o comunicado.
A notícia sobre a suspensão do projeto pegou as mães das crianças atendidas pela Apae de surpresa. Natália Ferrari, mãe de Anna Ferrari Braga, de 5 anos, falou sobre a importância do PEP não só para a sua menina, mas para toda a família.
“Quando você recebe um filho que demanda um pouco mais de atenção, a gente não sabe por onde começar. Aí eu soube da Apae e consegui a vaga. Eles nos orientam em tudo. Além da síndrome de Down, minha filha também é autista, e foi lá que eles diagnosticaram. O atendimento é excelente. Eles nos ensinam a cuidar de nossos filhos. Se não fosse lá, não saberia o que fazer, de verdade”, comenta.
A pequena Helena Vitória, de um ano e sete meses, estava no PEP desde outubro de 2019. Por mais que tenha sido por pouco tempo, o resultado dos atendimentos já era bastante evidente.
Helena estava prestes a completar seis meses. Ela nem levantava o pescoço ainda. A partir dos atendimentos feitos com os profissionais, ela começou a firmar o pescoço, a rolar, a sentar, a engatinhar. Ela não anda, mas já levanta, já segura nas coisas, tenta dar os primeiros passos. Se não fosse o programa, ela não estaria nesta fase de desenvolvimento, explica Paula Franco da Silva, mãe de Helena.
Mas, agora, diante da incerteza se o projeto voltará ou não, as mães estão sem chão e sem ter a quem recorrer. “Estou sem chão. Estou sem norte. Eu vou lutar para que a Apae permaneça com o projeto. Farei tudo que estiver ao meu alcance. Se não der certo, eu não sei o que vou procurar”, disse Natália.
Já Paula, que não tem condições de pagar tratamento particular para a sua filha, até pensa na possibilidade de se mudar para outra cidade. Somente assim, segundo ela, daria para continuar o atendimento que fez tão bem para Helena.
“Eu não tenho condições de pagar tratamento particular para a minha filha. Eu vou estimular ela da forma que ela estava sendo com as profissionais da Apae. Mas não é a mesma coisa. Se a Apae de Cotia deixar mesmo esse atendimento, provavelmente, terei que mudar de cidade para ela ser atendida por outra Apae. Isso é muito triste”, lamenta Paula.
Cotia e Cia entrou em contato com o presidente da Apae de Cotia, Paulo Generoso, para saber se existia a possibilidade de retomar o projeto, já que ele havia sido suspenso provisoriamente.
Em mensagem de texto, Generoso escreveu que não comentaria o assunto até a instituição terminar o planejamento. Disse também que, em breve, a Apae divulgaria uma nota oficial.
Reportagem de Neto Rossi e Rudney Oliveira