Lotado, Hospital de Cotia mistura pacientes na maternidade e 'transforma' alas para atender apenas covid

Jornalista do Cotia e Cia ficou internado três dias na unidade e traz, de dentro do hospital, tudo o que presenciou.


Hoje é domingo, 3 de janeiro de 2021. Escrevo esse relato da maternidade do Hospital Regional de Cotia, onde estou internado desde o primeiro dia deste ano. Não deveria estar aqui, pois a ala é exclusiva para recém-nascidos que devem ser assistidos por seus papais e suas mamães. Acontece que o hospital está lotado, e não há mais vagas em outras alas.

Cheguei aqui em razão de uma cólica renal. A dor é horrível - quem já teve, sabe o que estou dizendo. Passei pelo Pronto-Socorro. Muitas pessoas acidentadas, passando nas macas extremamente feridas. Maioria acidente de moto. Outras, porque caíram e se machucaram por estarem embriagadas. Eis o fim de ano.

O mais triste mesmo foi a morte de uma criança de 5 anos. O pai teria dormido no volante e bateu o carro. A mãe passou ao meu lado, em prantos. Aquela cena cortou meu coração.

Após ser medicado, fiz exames e aguardei por nove horas os resultados. Por conta de uma infecção no rim e obstrução no canal da urina, tive que ficar internado. 

O normal, segundo os enfermeiros, seria a internação na Ala G. Acontece que por estar lotada, vim para a ala H, onde fica a maternidade. Nesse exato momento em que escrevo, ouço choros dos recém-nascidos nos quartos ao lado. 

Estou com mais três pessoas no quarto. Um senhor que também está com problema nos rins, um jovem que bateu a cabeça depois de ter ingerido bebida alcoólica e um rapaz que sofreu acidente de moto e está sem movimento no braço direito. Antes deles, três já tiveram alta. 

Das seis pessoas que ficaram comigo no quarto, apenas duas eram de Cotia. Um paciente era de Jandira, outro de Mailasqui, outro de Carapicuíba e outro de Vargem Grande Paulista. Por ser um hospital regional, como o próprio nome já diz, ele atende toda a região. Entenderam a falta que faz um hospital do município? Pois é, não temos ainda.

A ala F do hospital é chamada agora de UTI 2. As internações são exclusivamente para casos de covid-19, entre suspeitos e confirmados. São 50 leitos. Todos estão ocupados, segundo uma enfermeira que acabou de me medicar. Ainda de acordo com ela, a ala da pediatria também será "transformada" em ala para covid. "As pessoas comemoraram as festas de fim de ano de maneira muito irresponsável", disse, enquanto aplicava medicamento no paciente ao lado.

Hospital é muito complexo. Nem todo paciente é paciente. Nem todo profissional da saúde é educado. Mas, de forma geral, o tratamento aqui é excelente - pelo menos, para mim, está sendo.

Dois médicos estão neste momento no quarto. Conversaram com dois pacientes e depois falaram comigo. Terei alta. Continuarei meu tratamento em casa. Mas saio daqui com essa reflexão: os casos de covid-19 tendem a subir ainda mais, pois ainda veremos o reflexo das festas de fim de ano, que geraram aglomerações em diversas partes do Brasil.

Aqui em Cotia não foi diferente. Das comemorações em chácaras lotadas até os pancadões nas ruas. Ainda veremos as consequências disso. Os profissionais da saúde temem o aumento de internações, justamente pelo fato de o hospital não ter estrutura o suficiente. O Estado diz que tem e, se não tiver, faz transferência. Mas as transferências também estão demoradas pelo mesmo motivo: outras unidades também enfrentam problemas com superlotação.

Espero que a vacina venha antes do caos. 

Neto Rossi
Repórter do Cotia e Cia
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