Em contato direto com o suposto vendedor, Luiz Souza transferiu o valor de R$12 mil e depois foi bloqueado. Outras pessoas já foram vítimas do mesmo golpe
Fox seria vendido no valor de R$ 12 mil. Foto: Reprodução |
O sonho do administrador Luiz Souza, de ter um carro próprio, virou um pesadelo. Morador de Caucaia do Alto, distrito de Cotia, ele encontrou um anúncio no site Mercado Livre que contemplaria seu desejo: um carro Fox, na cor vermelha, e num valor acessível de R$12 mil. Mas o que Luiz não sabia é que o anúncio se tratava de um golpe.
O aplicativo do Mercado livre direciona o usuário diretamente para fazer contato com o vendedor por telefone. Luiz então salvou o número e preferiu chamá-lo no WhatsApp. A conversa teve início às 8h05 desta segunda-feira (7/12) e o golpe foi concluído cerca de seis horas depois.
Luiz começou a conversa dizendo que tinha interesse no veículo e pediu detalhes ao suposto vendedor. O carro viria revisado, vistoriado, com 90 dias de garantia, ar condicionado, vidro elétrico, trava e direção.
Luiz então teve que transferir R$2 mil, que seria para preparar a documentação, e o restante do pagamento, R$10 mil, foi feito momentos depois. Desta forma, tudo seria entregue na mesma data, “até às 17h”.
A transferência bancária no valor total de R$ 12 mil foi feita pelo banco Santander. O suposto vendedor passou então os dados bancários junto com o CNPJ de uma loja de veículos, localizada em São Carlos, interior de São Paulo. No entanto, no anúncio feito no Mercado Livre constava que a loja ficava em Pinheiros. Foi então que Luiz passou a desconfiar.
Luiz: “Eu vou te confessar que fiquei inseguro com a distância. Imaginei que seria em Pinheiros e eu poderia ir conhecer o carro pessoalmente.”
Suposto vendedor: “Varão [termo usado por evangélicos] pode ficar tranquilo sou cristão Graças a Deus não tenho necessidade nenhuma para estar fazendo coisa errada com o senhor com ninguém”
Após mais troca de mensagens, o contato foi transferido a uma pessoa que se identificou como André, que seria gerente da loja, com quem Luiz passou a conversar também mensagens de texto.
Entre trocas de anexos de documentos e comprovantes da compra, Luiz então solicita para que André envie o código de rastreamento da mercadoria. O que não aconteceu.
Luiz: “E como está o andamento? O carro vem hoje?”
André: “Sim, tudo ok. Por volta das 18h."
Às 14h21, Luiz pede para fazer o cancelamento da compra por não estar seguro com o procedimento. “Mano, vou ter um filho, o carro é para poder ir nas consultas e tal... Pode fazer a gentileza, na humilde de devolver o valor que transferi?” André responde que iria ligar. É neste momento que Luiz é bloqueado do WhatsApp e do telefone. Mas a transferência de R$12 mil já havia sido feita.
Assim que o golpe foi concretizado, Luiz ligou no banco Santander para tentar bloquear a transferência. Mas era tarde. Segundo a atendente, o valor só seria bloqueado se ele ainda estivesse na conta. Luiz ficou indignado.
“Eu acho errado, acho que o banco tinha que lançar como negativo para esse cara, uma vez que eu tenho os documentos comprovando a transferência, e me devolver esse valor. É um empréstimo consignado, eu saí no prejuízo em dobro. Perdi a grana e vou ter que pagar o consignado do mesmo jeito. Queria restituir o meu valor ou cancelar o consignado sem ônus. O próprio banco reconhece que foi um golpe”, reclamou.
Já no Mercado Livre, também foi sem sucesso. Ao solicitar ajuda no site por telefone, não foi possível identificar o código de atendimento.
EMPRESA DE VEÍCULOS NÃO EXISTE
A reportagem teve acesso aos documentos enviados a Luiz no momento da compra do veículo. O CNPJ da empresa consta como André Luis Mazzuccio, aberto há 21 anos, com sede na Rua Monteiro Lobato, 2327, no centro de São Carlos, interior de São Paulo. Mas ao jogar o endereço no Google Maps, não aparece nenhuma loja de veículos, pelo contrário, apenas uma rua dentro de um bairro residencial. Mas na cidade há uma loja cujo nome é André Automóveis, mas fica em outro endereço, na Avenida São Carlos, 374.
O Cotia e Cia ligou nessa loja e foi informado por um representante que não se trata do mesmo local. Segundo ele, há mais de três meses esse problema vem acontecendo, inclusive, diversos boletins de ocorrências já foram registrados.
Realmente, Luiz não foi a primeira e nem a única vítima. No site ‘Reclame Aqui’ um internauta relatou o mesmo problema, com o mesmo endereço. No entanto, desta vez, ele foi até o local.
“Dirigi 3 horas e 40 minutos, paguei 140 reais de pedágio, 100 reais de combustível, quando cheguei no endereço informado pelo suposto vendedor ‘Tiago’ na Rua Monteiro Lobato, 2327, o endereço não bate, a suposta loja ‘André M Veiculos’ não existe. Ao chegar, encontrei mais 3 vítima. Quero ser ressarcido do meu prejuízo.” O comentário foi feito no dia 14 de outubro deste ano.
OS SUPOSTOS VENDEDORES
A reportagem entrou em contato com os dois supostos vendedores que aplicaram o golpe em Luiz. O primeiro número se identifica como Daniel e, o segundo, como André. Com uma foto de veículo no perfil do WhatsApp, Daniel não atendeu o nosso contato e apenas enviou uma mensagem dizendo para “esperar um momento”, mas o Cotia e Cia não conseguiu mais falar com ele.
O segundo contato, que se identificou como André, também não atendeu a primeira ligação. Após mensagem de texto, ele disse para ligar novamente. A reportagem então ligou, mas ele ficou em silêncio. O suposto vendedor disse que ‘a ligação estava ruim’.
O Cotia e Cia pediu para ele deixar outro número para contato. André visualizou a mensagem e não retornou mais.
Procurada pela reportagem, a Agência Ideal H+K Strategies, responsável pela assessoria de imprensa do Mercado Livre, não retornou até o fechamento desta edição.
O caso foi denunciado no Juizado de Pequenas Causas de Cotia. O processo foi baseado no Código de Defesa do Consumidor.
Reportagem de Neto Rossi