Um operador de máquinas está afastado do trabalho há um mês após ter sido vítima de racismo e assédio cometidos, segundo ele, pelo próprio chefe. A vítima é um funcionário do Consórcio São Lourenço, responsável por realizar uma obra da Sabesp que passa pela regão de Cotia, Vargem Grande Paulista e Ibiúna.
O homem de 40 anos, que pediu para não ser identificado, mora em São Vicente, no litoral paulista. Ele diz que, em 11 de julho, foi alvo das agressões cometidas pelo encarregado, depois que solicitou a ele um local adequado para realizar as refeições no canteiro de obras, em Vargem Grande Paulista, onde está uma das frentes de trabalho.
"A empresa sempre ofereceu um lugar adequado. Na medida em que a obra avança, muda. Naquele dia, ele queria colocar a gente em uma casa abandonada. Ela era utilizada por moradores de rua e não tinha nada de higiene. Nem ventilação, nem luz. Eu disse a ele que não daria para comer ali. Só isso", relatou.
Ao se recusar a utilizar o espaço, o operador de máquinas disse que o encarregado puxou uma faca. "Ele veio para cima de mim me chamando de 'preto folgado', e disse que, provavelmente, eu iria passar o resto da vida passando fome. Eu nunca tinha passado por isso antes, e nunca pensei em passar por isso".
A situação foi contornada com o auxílio de outros colegas. Entretanto, o funcionário não conseguiu mais retornar ao trabalho depois daquele dia. "Eu relatei o que tinha acontecido, e ninguém me deu atenção. O consórcio não quis saber de mim. Eu procurei ajuda médica, e eles me afastaram. Vou passar por perícia, agora".
O operário registrou um boletim de ocorrência em razão das ameaças. "Eu sou negro. Racismo a gente enfrenta todo dia, seja de brincadeira ou de forma séria. Mas aquilo ali mexeu muito comigo. Depois disso, a gente percebe como é pequeno. Eu tenho duas filhas e tenho que cuidar delas. Estou com medo".
Por meio de nota, a Sabesp informou que tanto o funcionário quanto o supervisor são funcionários contratados do consórcio de empresas que executa a obra do Sistema São Lourenço, na Grande São Paulo. "A companhia vai analisar a situação com base no contrato, e, se for o caso, aplicará as sanções cabíveis", pontuou.
A obra é uma parceria das construtoras Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, que informaram não compactuar com qualquer tipo de discriminação, e que mantêm "o compromisso de garantir os direitos fundamentais de todos os colaboradores". O consórcio ainda informou que demitiu o funcionário alvo da denúncia.
*G1