Editorial: A esquecida juventude de Cotia


Um breve panorama da cidade de Cotia na década de 90: predominância da agricultura familiar, imenso espaço verde, muitas estradas de terra, pouco transporte coletivo, pouco comércio local, praticamente nenhum espaço de lazer (o lazer da população estava na tradicional Romaria) e difícil acesso do jovem à faculdade ou qualquer curso profissionalizante. Panorama da cidade de Cotia nesta segunda década do século XXI: chegada de indústrias, devastações absurdas do espaço verde que viram notícia na televisão, maioria das estradas pavimentadas, transporte coletivo ainda deficiente, uma invasão do comércio, porém, praticamente nenhum espaço de lazer e acesso dificultando o jovem ir à faculdade ou qualquer curso profissionalizante de qualidade. Se fosse perguntado ao jovem daquela geração como era a vida do adolescente cotiano a resposta seria idêntica a dos jovens desta geração: difícil.

Com a pergunta “Como você definiria ser um adolescente em Cotia?” as respostas foram muito semelhantes: “Ser um adolescente em Cotia tem seus prós e contras. Prós é que, ultimamente tem mais oportunidade de aprendizado, alguns programas educacionais, etc. Contras: os programas de lazer pra nós são limitadosSabrina, 18; “Um adolescente com uma falsa ‘oportunidade’ de estudar, trabalhar e se divertir. Como se divertir em uma cidade onde tem apenas a cultura erudita e em apenas um bairro (Granja Viana)? Para trabalhar a dificuldade do transporte público não dá nem para falar (já fizemos editorial sobre) e para estudar, conto o meu relato: saio às 5 da manhã de Caucaia [do Alto] e chego 8 horas na Barra Funda, chego de volta às 14 horasRudney, 18. “Não tem muita área de lazerRenan, 18. 

Shopping Granja Viana, um dos únicos lugares de lazer
no município.
O voto é unânime quando o quesito é lazer: não existe! Talvez jovens da Granja Viana discordem deste discurso, pois é lá que se concentram os poucos espaços de diversão (cinema, shopping, Mc Donalds, etc), mas Cotia não se resume à Granja Viana, pelo contrário, elas quase parecem duas cidades distintas. Cotia é maior do que apenas um bairro nobre. Se os jovens de outras regiões do município decidirem gastar algumas horas de seu sábado à noite fora de casa só possui duas opções: festas particulares (algumas até mesmo perigosas) ou bares e restaurantes (muitos com bebidas alcoólicas, ou seja, apenas maiores de idade podem frequentar). Não há parques, não há teatros, nem ao menos casas de shows. Outras cidades são, de longe, mais interessantes.

Etec de Cotia, localizada próximo ao Km 30 da Raposo Tavares
Falando de educação, a instalação da ETEC e da FATEC no município é, sem dúvidas, uma evolução, mas temos que levar em consideração as localidade de ambas, isso porque as duas se localizam em lugares longe do centro da cidade, vale lembrar também que as opções de cursos são limitadas e se o jovem pretende fazer algo além do que é oferecido por esses ensinos gratuitos, precisará pagar cursos particulares, muitos deles fora da cidade. É neste momento que um problema esbarra em outro. As poucas opções de cursos e universidades obriga o adolescente a gastar o dinheiro que não tem em transporte público ou até mesmo particulares. “Ser um adolescente em Cotia é ter que fazer [faculdade] federal em outro município porque aqui não temBruna, 17. O adolescente é forçado a trabalhar para custear os estudos, mas como trabalhar se a distância até as universidades os faz chegar muito além do horário comercial, como no relato de Rudney (18) que chega em casa após às 14 horas? É claro que há universidades na cidade, mas falta extensões de faculdades federais ou até mesmo privadas renomadas (Puc, Mackenzie, etc).

Apesar de estas questões sobre universidades ser um problema federal, os órgãos municipais precisam demonstrar interesse para que o investimento aconteça. Que governador ou deputado irá investir em algo tão caro e importante se o próprio governo municipal faz pouco caso?

As manifestações de Junho mostraram o quanto o jovem está engajado e almejando por um espaço, mas nem sempre estes recebem o devido apoio ou incentivo. Já é clichê dizer que a juventude é o futuro da sociedade, mas apenas dizer, pois, na prática, eles são tratados como o problema. Será que o descaso com o adolescente cotiano só acontece por que, muitos deles não são eleitores?

Por: Carolina Marins | Edição: Rudney Oliveira
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