Por: Carol Marins Edição: Rudney Oliveira
Movimento contra o Fechamento da Escola |
Nesta segunda-feira (27) o governo do estado de São Paulo anunciou o fechamento – fechamento, assim como foi chamado acertadamente pela Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, Carta Capital e muitos outros jornais brasileiros e não "reorganização" como grosseiramente insiste o governador – de 94 escolas, dentre elas está o Pequeno Cotolengo Dom Orioni, em Cotia (Já noticiado aqui neste site) . Existente desde 1964, o Pequeno Cotolengo acolhe crianças com deficiência física e mental leves que são carentes e/ou sem família. O motivo? Segundo Alckmin e o secretário de educação, Herman Voorwald, "melhorar a educação"; de verdade? Tirar a responsabilidade do estado e jogar nas prefeituras.
No início do mês conversei com a professora Lisete Arelaro, professora doutora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), sobre o tema. Em entrevista ao jornal laboratório dos alunos de jornalismo da universidade, a professora explica que a única intenção do governo do estado ao reformular os ciclos e fechar escolas é a municipalização do ensino. Dessa forma, as prefeituras, independentemente de serem ricas ou pobres, serão responsáveis pela manutenção das escolas do primeiro ciclo. Atualmente apenas um terço das escolas funcionam dessa maneira.
No site oficial da Secretaria de Educação diz que "entre os benefícios da medida estão à redução nos conflitos entre alunos de idades diferentes, além da melhor gestão da unidade, oferecendo a possibilidade de trabalhar estratégias pedagógicas voltadas a um único público". A professora da USP acha a ideia ridícula e afirma: "a vida em sociedade inclui você andar em um ônibus que tem desde criança de colo a velhinhos de 90 anos". A criança precisa aprender a conviver com pessoas maiores do que ela e vice versa, afinal, o mundo não é formado apenas por pessoas de mesma idade. Isolar grupos só ensina o individualismo.
Mas ainda assim, o ponto de maior incoerência não está na reformulação dos ciclos e sim no fechamento de escolas consideras "ociosas". Em matéria publicada nessa quinta-feira (29) pelo Estado de S. Paulo, dessas 94 escolas, 30 possuem desempenho acima da média. Dentre essas 30 está o Pequeno Cotolengo. O jornal diário conversou com o professor Ocimar Alavarce, também da Faculdade de Educação da USP, que considerou esse fato uma prova da inconsistência dos argumentos da secretaria. "Não faz sentido apresentar uma reforma tão ampla sem um estudo detalhado".
O estado de São Paulo possui o maior PIB – Produto Interno Bruto – do Brasil (R$ 1.586.617,00 em 2014), isso o permitiria poder – e dever – ser o estado modelo em investimento em educação. Eles utilizam uma desculpa de que futuramente o estado possuirá menos alunos, então a reforma está começando agora (?). Herman Voorwald e Alckmin estão bem visionários, hein?
Após o anúncio da reformulação e das outrora especulações de fechamento das escolas, a hashtag #nãofechemaminhaescola explodiu. Alunos de todo o estado estão se reunindo para tentar impedir que suas escolas sejam fechadas e que eles sejam realocados para onde nem ao menos conhecem. Já houve manifestações na Avenida Paulista, Largo da Batata e vários outros lugares, com participação de alunos, professores e pais preocupados. O secretário ironizou os atos. Afirmou que as manifestações são importantes, mas deveriam acontecer contra a greve de professores. Greve dos professores? Será que ele estava falando daquela que acontece todo ano por causa das péssimas condições de trabalho, baixos salários e nenhum reconhecimento que esses profissionais recebem? Verdade! Deveríamos estar manifestando por causa disso... Mas ao lado dos professores, não contra eles, como o secretário parece incitar.
Mas afinal, o que vai acontecer com essas escolas fechadas? O estado entregará às prefeituras para utilizarem como creches ou ao Centro Paula Souza para fazê-las de Etecs e Fatecs. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, afirmou que não precisa de creches no centro da capital e sim na periferia, ou seja, outra decisão não estudada. Dependendo dos cursos oferecidos, Etecs e Fatecs podem ser bem-vindas – novamente, dependendo dos cursos –, creches? A não ser que façam uma ótima reforma, uma antiga escola não possui estrutura para uma creche.
Vale ressaltar que a escola Pequeno Cotolengo deve ser apenas devolvida por se tratar de um prédio alugado, ou seja não será entregue ao Centro Paula Souza e nem à prefeitura.
Apenas me pergunto: Por que estamos tão pacíficos? A decisão foi anunciada no mês passado, decisão esta que não ouviu professores, alunos, pais, profissionais da educação, qualquer cidadão, e até agora continuamos pacíficos. Noventa e quatro escolas serão fechadas, uma delas aqui do lado, uma escola acima da média, que abriga crianças com deficiência, e continuamos sentados no sofá? O site de notícias satíricas do UOL intitulado Sensacionalista brincou: "Passividade faz cientistas investigarem se há Rivotril na água dos brasileiros", mas bem que a brincadeira pode ter fundamento, hein. Abaixar a orelha para um ato tão absurdo que é o fechamento de quase 100 escolas no estado com poder aquisitivo suficiente para abrir o mesmo número é definitivamente o fim da humanidade. Rivotril é pouco, deve ter Boa noite Cinderela em nossa água.
Carol Marins é estudante do 2 semestre de Jornalismo da USP-SP e escreve para o Cotia e Cia desde 2014. As opiniões expressadas pela autora não é de responsabilidade do site.